sábado, 27 de julho de 2019

Victor e Vinicius – a última história (ou seria a primeira?)


Eram irmãos. Mas tão parecidos e diferentes como só irmãos sabem ser de fato.
Eu estava com dezoito anos, quando conheci o Victor. Ele também tinha a mesma idade. Naquela época, 1984, o Scorpions dominava a cena do rock. E o Victor queria ser roqueiro. Tinha uma banda de rock em que ele era o vocalista. E fazia muito sucesso entre as meninas do bairro.
Vinicius eu conheci depois. Quase nem parava em casa, ficava o tempo todo na casa de um tio, que também era seu padrinho, em outro bairro mais afastado. Meeeeu Deus! O que foram aqueles irmãos na minha vida!!!
Victor tinha uma banda, os ensaios, os showzinhos. Não ligava a mínima para mim, que vivia arrastando um bonde por ele. Já Vinicius, nos seus dezessete anos, era tão sério, embora adorasse fliperamas. Queria terminar o segundo grau e arranjar um emprego.
Quando me viu, apresentada pela mãe deles, Vinicius já foi logo me chamando para sair. Queria me levar ao fliperama! Mas percebendo que dera uma “mancada”, quando soube que eu fazia faculdade já, me convidou para ir ao cinema.
Victor nunca tinha me chamado para sair, nem mesmo para assistir seus shows, nem os ensaios. Nada. E eu era louca por ele. Arrastava um bonde por ele.
Quer saber?
Vou sair com Vinicius sim.
E fui.
Era uma noite chuvosa, meio friorenta. Acho que junho. Ou julho, já não me lembro mais. Vimos um “filme cabeça”, que ele jurou ter adorado: E La nave va, de Fellini. Quando voltamos, havia uma tempestade caindo no meio da rua. Raios e trovões nos céus. Foi quando ele me encostou em um dos carros parados na rua e começamos a nos beijar, completamente encharcados, pois o único guarda-chuva que levamos mal dava para um.
Senti aquele volume sob a calça dele bem encostado em mim, e não acreditei que aquilo tudo era ele mesmo. Foi um beijo longo, intenso, com raios servindo de pano de fundo. Então, passei um bom tempo achando que a música do Lobão tinha sido feita sob medida para aquele beijo do Vinicius:
“Ainda me lembro daquele beijo, spank punk violento, Iluminando o céu cinzento...”
Foi mais ou menos assim.
Mas aquele volume encostando teimosamente em mim me assustou um pouco e quis ir logo para casa.
Quando chegamos, passamos por Victor, todo vestido de branco, saindo de mãos dadas com uma namorada. A caminho de algum show, era claro.
Oi.
Oi.
Era tudo muito confuso. Victor não queria nada comigo, pelo menos aparentava isto. Vinicius queria tudo comigo, e eu indecisa, entre os dois irmãos.
Até que, uma noite, eles brigaram feio. Por minha causa. Do nada.
Não lembro mais como foi, quando vi, os dois estavam atracados, se esmurrando, bem na porta da minha casa.
Falei para o Vinicius que era melhor ele ir embora, nunca mais voltar.
Falei para o Victor que eu ia embora, nunca mais ia voltar.
E fui.
Fiz uma viagem em que fiquei três meses perambulando pelo nordeste, em casa de parentes.
Quando voltei, o ano já tinha virado. Era uma tarde quente de março de 1985, quando eu e o Victor nos reencontramos. Ele me levou ao estúdio onde aconteciam os ensaios. Eu nem podia acreditar. Passara tanto tempo querendo isto, e agora, simplesmente, finalmente, acontecia.
Mas não era hora de ensaio nenhum. O local estava vazio. Na verdade, estavam desocupando o salão, que era alugado, e pouca coisa ainda restava por lá.
Mas tinha um velho colchão num canto, e foi para lá que fomos, ansiosos e medrosos.
Foi a minha primeira vez.
E o que dizer daquele sonho realizado?
Victor me deitou no colchão, tão delicadamente que quase chorei de tanta felicidade. Então deitou-se devagar sobre mim e me perguntou se estava incomodando.
Claro que não.
Eu não parava de beijá-lo. Agarrava seus cabelos cacheados, meio encharcados de suor. E mordia seu queixo, a bochecha, o nariz. Lambia suas pálpebras cerradas. Até hoje não entendo por quê, mas foi assim que fiz. Ele estava sem camisa, somente de calção, sem cueca por baixo. Eu já nem lembro se já estava sem roupa alguma, ou apenas semi nua, quando ele começou a me penetrar.
Doía. E era bom, infinitamente bom. Ele tapou minha boca com umas das mãos, mas eu nem pensava em gritar. Comecei a lamber a palma de sua mão, e ele botou os dedos dentro de minha boca, que eu sugava desesperada. Depois, tirou os dedos molhados e foi ajudando na “tarefa” lá embaixo, afastando com os dedos os grandes lábios para conseguir me penetrar. Pronto. A tarefa foi muito bem cumprida. Estávamos ambos realizados. Ficamos um tempo deitados no colchão, fumando e nos olhando, ainda meio descrentes, talvez.
Nunca chegamos a namorar, daquele tipo que vai ao cinema, toma sorvete, anda de mãos dadas. Mas quando nos encontrávamos, era um furor tal, que ficávamos totalmente sem palavras. Simplesmente grudávamos um no outro, e era difícil separarmos.
Não combinávamos nada. Andávamos como cão e gato pelas ruas, ao deus-dará. E quando nos víamos, pronto, ninguém segurava.
Isto durou até 1987. Até lá, eu já havia conhecido o Celso, o pintor de quadros, e sim, durante uns seis meses, estive envolvida com Celso e Victor, que simplesmente não deixava minha cabeça em paz.
Uma noite, andando na rua, sem saber se ia para o ateliê do Celso ou tentar “esbarrar” em Victor, de repente tropecei em um pedra. Na verdade, um imenso pedregulho, que chegou a machucar meu pé.
Fui para casa. Debaixo do chuveiro fumegante, decidi: não quero saber de Celso, chega de Victor.


Anos depois, digo, três décadas depois, procuro na internet alguma notícia dos três: Celso, Victor, Vinicius. Horroriza-me a total falta de informações na internet – a internet! Mas insisto, e a duras penas encontro o nome de Celso. Parece que vive recluso em um sítio, casado, com filhos e até netos, pintando pacatamente seus quadros. Também dá aulas de pintura, pelo que pude entender. Victor eu achei numa lista de nomes de há uma década atrás, de um concurso público. Aparentemente, tornou-se um burocrata. E só.
Não tinha notícias de Vinicius. Nada. A internet, um túmulo.
Até que me lembrei que, pouco antes de por fim à história com Victor, tinha ficado sabendo que Vinicius tivera tido um filho com uma mulher com quem juntara os panos, estavam muito bem, obrigado. E num dia em que fui visitar a mãe deles, que continuava minha amiga depois de tudo, adivinha quem estava lá, com a mulher e o menino tão fofo, lindo como o pai???? Naquele dia, soube que o nome do menino era uma mistura do nome do pai e da mãe, que chamava Sonia, com "Junior" no final. Sim, eu me lembrava perfeitamente. O menino se chamava "Vinison". Então, simplesmente digitei o nome completo do filho do Vinicius.
E soube toda a verdade. O filho do Vinicius, agora homem feito, estava preso, por tráfico de drogas! A mãe – encontrei-a também na internet – movia um processo contra o Estado que durava quase três décadas. Fui fuçar que processo era aquele, que história era esta???
E foi como se de repente o tempo voltasse, e eu me visse às voltas com o jovem de dezessete anos que eu conhecera, cheio de vida, alegre, lindo. E eu só conseguia soluçar, a tela embaçada pelas lágrimas abundantes, a falta de chão e de ombro amigo que pudesse me consolar.
A mulher, mãe do filho do Vinicius, movia um processo tentando obter ainda, depois de tanto tempo, uma indenização do Estado, pois seu marido havia morrido, aos vinte e três – vinte e três – anos de idade, eletrocutado por um raio durante uma chuva que inundou toda a cidade.

sábado, 17 de junho de 2017

Outro adendo – agora sobre camas


Relembrando a minha história com o Rodrigo e o triste fim da nossa tão desejada cama de casal, que um dia (há quanto tempo?) enfeitei com tanto gosto, com delicadas almofadas em forma de coração, e que, vinte anos depois, se transformou na mais completa ruína, vem-me à mente outra cama, também de casal, mas da qual tratei de fugir como – dizem por aí – o diabo foge da cruz.

Foi Celso quem a providenciou.

Uma das vezes  em que ele foi me buscar na faculdade, quando chegamos ao seu cafofo, Celso, fazendo mistérios, tapou meus olhos e levou-me ao quarto, para me mostrar “a surpresa”. Não era propriamente uma “cama”, mas um colchão de casal, muito largo e alto. De molas. Beijando minha boca, ele empurrou-me suavemente sobre aquele colchão, onde não faltavam travesseiros e lençois macios, ao mesmo tempo em que perguntava se eu havia gostado da nossa cama de casal.

É que até então as nossas transas rolavam numa apertada cama de solteiro, encostada na parede. Às vezes também no colchão da cama, que o Celso colocava no chão, para ganhar mais espaço.

Ele parecia orgulhoso do seu feito.

Está bem, confesso. Estreei aquela “cama” com certo furor e grande prazer de ver o prazer do Celso com aquele colchão enorme, que ocupava quase todo o chão do quarto. E tão macio, tão...

Porém, ao ir embora, enquanto me calçava, olhei mais uma vez aquela “cama de casal”, desta vez sem nenhum entusiasmo.

             Dei um tempo, como dizem. Sumi vários e vários dias. E, quando finalmente retornei ao apê do Celso, o encontrei ocupado demais, e surdo demais, para que pudesse me abrir a porta.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Um certo capitão Rodrigo


Todos os dias, a caminho do trabalho, de manhã bem cedo, eu me punha a namorar. Namorava uma cama de casal, de madeira trabalhada, que ficava exposta numa loja de móveis, numa esquina a duas quadras de casa.

Era uma bela cama. E como eu a almejava!

Então, qual não foi a minha surpresa ao chegar em casa após um dia exaustivo, entrar no quarto e dar de cara com ela, a cama dos meus sonhos acordados!

Pelo visto, o Rodrigo também andava de olho na mesma cama e, sem falarmos nada sobre o assunto – até então, após um mês de vida marital, estávamos dormindo num colchonete de casal, fino como uma omelete sem recheio –, tivemos o mesmo pensamento. Era a mesma cama, sem dúvida. Aliás, só havia ela na loja, eu já andara por lá me informando. De madeira maciça, feita artesanalmente. E agora estava no meu quarto!

Forramos a “nossa” cama com cobertores, e no dia seguinte – partiu lojas de lençois. E fronhas também. Para cobrir a cama nova, comprei uma colcha cor de rosa, que enfeitei com almofadas em forma de coração. Um luxo!

O quarto ficou um aconchego só. Eu, que nunca havia pensado que algum dia levaria vida de casada.

(Mas também jamais pensaria que aquela mesma cama seria partilhada, na minha ausência, com mulheres que, para mim, estavam acima de qualquer suspeita.)

O fato é que, diante de tal guinada na história da minha vida, eu fiquei completamente cega, não conseguia distinguir a verdade, a menos de um metro do meu nariz.

Este longo capítulo da minha história de vida, que aqui será encurtado e bem reduzido, também poderia se chamar “Memórias do Cárcere”. Durou exatos vinte anos, durante os quais vivi encarcerada, ora literalmente, ora pelos laços desvairados da paixão e da loucura, às vezes bem parecidos com os do amor e do ódio. Também vivi de olhos vendados, em parte voluntariamente, quem sabe? Talvez não quisesse acreditar naquilo que meus sentidos intuitivamente procuravam me alertar. Um perfume diferente no ar, vestígios aqui e ali, roupas desaparecidas – principalmente cuecas...

Até que, exatos vinte anos depois – era dia de São Jorge, o Santo Guerreiro, quando decidimos nos acertar e “juntar os trapos”, e também agora, feriado, em que eu resolvera, em homenagem ao santo, preparar um bacalhau ao forno. Agora, nesse mesmo instante em que o prato, entre folhas de alface e taças de vinho, esfriava sobre a mesa, enquanto a verdade, que sempre esteve ali, silenciosa, finalmente se impunha, nua e crua, aos meus olhos. Eu não poderia mais deixar de vê-la. Ou mesma negar-me a enxergá-la. Em poucos instantes, passamos da alegria, que agora se revelava o que sempre fora, afinal de contas, pura ficção e falsidade, para o mais completo desespero. “A casa caiu”, diriam depois.

O fato é que aquilo que já vinha lentamente se corroendo e apodrecendo – uma palavra mal colocada, críticas recíprocas, filhos de permeio, apartando o bate-boca –, rompeu-se de vez, com a revelação (ou seria mera constatação?) da existência dela, “a amante”. Ou seria “segunda esposa”? Afinal, desde o início, lá estava ela, participando e partilhando de tudo, da mesa, dos bares, das músicas, das festas. E também da cama. Da minha cama! Dentro do meu próprio quarto! Na minha casa! Só eu que não via. Mas, naquele dia, a revelação crua, de chofre, soterrou para sempre aqueles vinte anos, que subitamente se tornaram meros escombros um tanto nebulosos.

Assim foi com a cama. Depois de passado o estardalhaço, quando tudo se resolveu enfim, não sem traumas – a saída definitiva do Rodrigo –, era preciso também dar uma destinação à cama. Contratei um senhor para recolhê-la, e foi durante a desmontagem da cama que percebi toda a ruína que ela representava. Não, não era mais a mesma cama, que com tanta alegria a recebi em meu quarto, no mais íntimo do meu ser. A madeira, envelhecida, estava muito ressecada, com uma aparência triste, de quem carrega todo o peso do tempo. Um encaixe da lateral havia se soltado e nunca foi consertado. O Rodrigo simplesmente amarrou um trapo para segurar o estrado do colchão e ficou aquele improviso durante anos e anos. A cabeceira tinha pingos de tinta aqui e ali, da última pintura das paredes do quarto. Há quantos anos mesmo? Só agora eu via de fato todo o simbolismo que aquela cama, um dia tão bela e prazerosa, e agora totalmente em ruínas, tinha na minha vida. Urgia livrar-me dela.

Eu olhava a cama, saindo aos pedaços, em ruínas. Tal como eu saía daquele relacionamento com o Rodrigo. E constatava o inevitável: que eu havia sido mais feliz, com o Rodrigo, sem aquela cama em nossas vidas. Sim, quando o conheci, e perdi a cabeça, a compostura, e, de certa forma, até mesmo a decência, tudo era cama para nós, de madrugada, na rua: o banco no canto mais escuro da pracinha deserta, o lado não iluminado de um poste, o cantinho de areia que formava uma pequena duna à beira da praia, o jardim de uma casa abandonada, até mesmo a roda gigante do parquinho totalmente às escuras àquela hora em que as crianças, inocentes, dormiam com os anjos. Ficávamos em silêncio, um silêncio profundo, nos olhando, olho no olho, e de repente nos atracávamos, onde quer que estivéssemos. Cobertos pelas estrelas e pelo manto da luz da lua, amávamo-nos com furor, insaciavelmente. O Fábio, que acompanhou o início de nossos encontros (aliás, foi o Fábio que nos apresentou), era testemunha daqueles arroubos enlouquecidos, que sempre terminavam com o Rodrigo me levando nos braços e me depositando com cuidado na porta de casa.

        Eram tempos em que saíamos para ver a lua, beber vinho, tocar violão. Talvez, os únicos bons tempos que vivemos, antes daquelas longas duas décadas, que terminaram abruptamente, de forma tão bestial.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Tony e o pássaro engaiolado

Definitivamente, ando saudosa de mim. Ou melhor, daquela garota que não tinha medo de nada, que ficava trancada horas numa biblioteca, estudando, ou que chegava em casa de manhã, após uma peregrinação etílico-sexual pela noite afora.
Hoje, tenho medo de tudo, até mesmo de chegar à janela do quarto e uma bala perdida me encontrar. Em compensação, perdi outros medos, como o de morrer e o de almas do outro mundo. Tenho muito mais medo das almas deste mundo mesmo. Não creio na humanidade, nem na cura do câncer. Estamos todos condenados.

Quando conheci o Tony, ainda era bastante destemida. Diziam que era um sujeito perigoso. Mas como crer nisso, diante daquele baixinho de metro e meio de altura, longos cabelos amarrados num rabo-de-cavalo e que levava, onde quer que fosse, uma gaiola com um melro?
Tarde chuvosa do verão de 1989.
Eu, o Fábio, a Margarida, sentados à mesa de um bar bem longe de casa, quando ele parou, de passagem, pousando a gaiola com o pássaro no chão ao lado da mesa. Estava indo à padaria, buscar leite para o filho pequeno, de um aninho de idade. Mesmo assim, concordou, após alguma insistência do Fábio, em tomar um gole da “branquinha”.
— Só para espantar o friozinho, disse, esfregando as mãos.
Depois que ele se foi, o Fábio contou-nos sua história: vivia com uma mulher bem mais velha, que de repente engravidara, não lhe deixando outra alternativa que assumir o “lance” e o filho.
Particularmente, eu queria mesmo era saber por que aquele baixinho de vinte e oito anos, dono daquele simpático melro na gaiola, tinha fama de ser um cara perigoso. Fábio quase se engasgou, gargalhando. E contou que o Tony era um X-9. “X-9?”.  É como chamam os delatores que passam informações para a polícia, em troca de algum trocado.
— Na verdade, ele nem é tão perigoso. É ele que corre mais perigo, sentenciou o Fábio, virando mais um gole da branquinha, enquanto eu e a Margarida pedíamos mais um chope.
No sábado seguinte, à noite, fomos eu, Fábio e Margarida – estávamos ficando quase inseparáveis, cada um à sua maneira e por diferentes motivos, afogando as próprias mágoas no álcool –, para um outro bar, muito mais longe ainda de casa. E demos de cara com o Tony, que, sem nenhuma cerimônia, sentou-se à nossa mesa. Era convidado do Fábio.
Às vezes o Fábio pregava essas peças. Convidava algum amigo que eu não conhecia, só para ver até que ponto eu resistiria! Se resistiria...
Desta vez o Tony estava sem a gaiola com o melro. E não mencionou o filho, nem ninguém perguntou nada. Ficamos todos bebendo, nos embebedando, até que fomos para outro bar, onde havia dança.
E o Tony pendurou-se em mim, literalmente, a noite toda.
Ele vestia um casaco de couro preto, e parecia ter passado gel nos cabelos, bem presos para trás. Tinha uns olhos amendoados que, ali, à meia penumbra, me pareceram muito brilhantes, quase claros.
Sim, nos beijamos, freneticamente, mais para provar o gosto um do outro, do que por qualquer outra coisa. E fomos embora, já era quase madrugada. Cada um para sua casa. E o Tony servindo de motorista, com o seu velho Corcel enferrujado.

Passaram-se meses – muitos meses, durante os quais eu estava num relacionamento tão intenso quanto conturbado com “um certo capitão Rodrigo” –, sem que eu sequer lembrasse do Tony ou do que havia sido feito dele, após aquela noitada totalmente sem sentido. Porém, certa vez em que eu e o Rodrigo tivemos uma briga séria, que pôs um fim irrevogável à nossa história (assim pensava eu), de repente lembrei do Tony. Por onde andariam, ele e o passarinho na gaiola?
Liguei para o Tony, no trabalho, claro, que ele não dera o número de casa, por motivos óbvios, e também, naqueles tempos, ainda não havia essa oitava maravilha chamada celular, que só viraria realidade cerca de uma década depois. O Tony pareceu um tanto indiferente, ou pelo menos evasivo, ao telefone. Disse que estava no trabalho – eu sabia, claro –, uma fábrica de roupas que ficava num lugar muito distante – isto, eu não sabia. Sempre fui curiosa, já relatei isto em algum outro lugar, e fiquei me ardendo para conhecer a tal fábrica de roupas. “Posso ir aí?”. Eram uma duas horas da tarde. Ele ficou em silêncio uns instantes e finalmente disse “tudo bem. Sabe onde é?”. Eu não fazia a menor ideia de como chegar naquele lugar, mas o Tony me deu todas as coordenadas – naquele tempo também não havia Google Maps nem GPS.
Peguei um ônibus, depois o trem e mais outro ônibus rumo ao desconhecido. Mas, naquele tempo – também já escrevi isso antes –, eu ainda era bem destemida, do alto dos meus vinte e quatro anos.
Finalmente, cheguei a um local semi deserto que, disseram, não distava muito de um presídio de segurança máxima. Mas a tal fábrica de roupas estava mesmo lá, tal como o Tony dissera. Enorme, toda cercada por altos muros e arames eletrificados.
Já na entrada, fui recebida com certa deferência, quando citei o nome da pessoa a quem procurava. Um segurança me levou ao segundo andar do prédio, onde uma secretária disse que “o doutor Antonio lhe aguarda”. Ele recebeu-me com refrigerantes – não bebia café – numa sala com um ar condicionado extremamente frio. Era o gerente daquela fábrica. Depois, levou-me para dar uma volta pelo local. “Já esteve numa fábrica de roupas antes?”.
Do corredor do segundo andar, podia-se ver as operárias lá embaixo, numa espécie de amplo galpão, cada uma sentada à sua máquina industrial. Eram centenas delas, um ou outro homem quebrando aqui e ali o monopólio feminino. As operárias recebiam as peças já cortadas, passavam uma costura e entregavam a peça à próxima, que iria fazer os arremates e passar adiante, para aplicação de bolsos e botões numa máquina automatizada. Uma produção febril de calças jeans, e tantas, e todas absolutamente iguais, que fiquei tonta. Senti-me grata comigo mesma por estar usando uma calça preta de algodão e uma camisa artesanal, bem colorida, peças que não se assemelhavam em nada com a produção massiva de jeans que eu estava tendo a oportunidade de presenciar.
Ao longo do corredor, pude perceber, havia vários inspetores, que fiscalizavam, de pontos estratégicos, o trabalho das operárias. Até que a sirene tocou – eram cinco horas da tarde – e imediatamente as operárias largaram suas máquinas e foram bater o cartão do ponto. O expediente daquele dia havia acabado. Tony aguardou até o burburinho terminar, e ficamos, eu, ele e apenas um dos seguranças, sozinhos naquela imensidão. Até que o acompanhei ao estacionamento, onde entramos, eu e ele, no velho Corcel enferrujado.
No trajeto, eu me perguntava se aquela história de X-9 tinha algum fundo de verdade, ou se era apenas lenda, baseada em fofocas, quando o Tony interrompeu meus pensamentos.
“Deixo você em casa, ou tomamos antes um drinque?”, perguntou. Era um final de tarde de sexta-feira, hora propícia para um happy hour. Não respondi logo, e nem precisou. Mais à frente, paramos num bar próximo da fábrica, onde tomamos alguns chopes. Que tempos aqueles, em que não havia Lei Seca! O Tony, porém, bebeu pouco. Voltamos ao Corcel, e seguimos direto para um motel, que ficava a meio caminho da fábrica e da minha casa.
Mal chegamos ao quarto, nos atracamos desesperadamente, nos embolando nos cabelos um do outro. Passado o primeiro instante, faltava-nos fôlego, enquanto sobrava tesão. Quem diria, eu e aquele baixinho de metro e meio, e um pau que...
Depois, ficamos fumando e curtindo a musiquinha do rádio do motel, até que o Tony levantou-se para ir ao banheiro. Estiquei o braço para apagar o cigarro no cinzeiro, e aproveitei para ficar bem relaxada, de bruços, descansando. O Tony saiu do banheiro e veio vindo por cima de mim, massageando-me as nádegas com vigor. Com extrema delicadeza, afastou com sua mão pequena os meus cabelos, espalhados pelas costas e ombros, e começou a beijar-me a nuca, descendo vagarosamente, deliciosamente, sua língua grossa e úmida por minhas costas.
A essa altura, eu já estava novamente toda excitada, desejando mais que nunca a penetração. Ele então montou nos meus quadris e foi penetrando com suavidade e firmeza seu pequeno pau na minha bunda. Eu gemia de prazer. Foi a primeira vez que fiz sexo anal, se é que sexo anal era daquele jeito que se fazia, com um pau que mais lembrava o pássaro engaiolado do Tony que, agora, cantava, e cantava, e cantava... dentro de mim.
 Foi boooooommmmm.
Cheguei em casa à hora em que, geralmente, costumava sair – por volta de dez, dez e meia da noite, com o cabelo desgrenhado e úmido.

Não tornei a ver o Tony, nem sequer nos ligamos. O Fábio não suspeitava de modo algum do que acontecera – e jamais saberia, pelo menos da minha parte. Mas imagino que o Tony também não contou nada, senão o Fábio não teria deixado passar, sem algum comentário invejoso e maldoso.

O fato é que, cerca de dois anos depois, recebi um convite de casamento. Era do Tony, que iria se casar com uma mulher uns cinco anos mais nova que ele, numa igreja evangélica, com direito a música gospel e pajens, mas, porém, sem uma gota sequer de álcool. Como não poderia deixar de ser, fomos ao casório, eu e o Fábio.

A noiva estava grávida.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Um adendo

A minha história com o Elias, contada no post “A carruagem de fogo”, não terminou no supermercado em que nos encontramos, por acaso, quando ele foi comprar um carrinho de bebê para o filho recém nascido. Também não continuou no velho casarão arruinado, ou no escritório mambembe, nem em motéis ou qualquer outro lugar do mundo. Mas teve um adendo, que durou cerca de quinze ou vinte minutos, dentro do velho taxi pirata – o fusca sem o banco do carona, ao lado do motorista –, quase três anos após o nosso último encontro casual no supermercado.
Às sete e pouca da noite – uma noite pesada de inverno, sem lua, sem vinho, sem violão –, eu voltava da padaria, quando avistei, parado na esquina de casa, como um bicho à espreita, o velho fusca do Elias. O Rodrigo me esperava em casa, com a nossa bebê de apenas oito meses de idade. Mas fiquei surpresa ao encontrar o Elias ali, quase à minha porta, me esperando para conversarmos. Surpresa e curiosa.
Nunca mais, desde aquele dia no supermercado, tinha visto o Elias. Ele parecia muito bem. As faces rosadas de sempre, contrastando com os cabelos negros em desalinho, os olhos vivos, tal como eu o conhecera quando tínhamos quatorze anos. Na oitava série.
Ele soubera que eu tinha tido uma filha com o Rodrigo. Sabia também que não morávamos juntos. Mas tinha ouvido falar que eu ia me mudar de cidade, junto com o Rodrigo, e queria saber se era mesmo verdade. Queria ouvir da minha própria boca.
Sim, era de fato verdade. Eu e o Rodrigo havíamos resolvido ir morar juntos, mudar de cidade, de vida e de ares. Íamos criar nossa filha juntos, enfim.
— Por quê?!
Elias me olhava com um olhar incerto, duvidando daquilo que, para mim, era absolutamente indubitável. Era isto mesmo o que eu ia fazer. Sim, senhor.
Elias estava muito bem informado. Da minha parte, o olhava como a um completo estranho, que era exatamente isto o que ele havia se tornado para mim.
— Tem certeza? Você e o Rodrigo... vão dar certo?
Eu não entendia aquela conversa, toda aquela preocupação. Há tempos que eu não via o Elias. Nem sequer me lembrava dele. Nem de nada do que havíamos vivido.
— Só queria saber se você vai mesmo ficar bem.
Lembrei do filho, da filha e das duas mulheres do Elias. Talvez houvesse mais filhos, mais mulheres? Mas não perguntei nada. Não queria me envolver, nem dar brechas para que ele se metesse na minha história com o Rodrigo. Afinal, o que ele tinha a ver com isso?
— De onde você conhece o Rodrigo?, perguntei subitamente, pois até aquele instante, nunca havia me ocorrido que os dois pudessem ser amigos, ou ao menos conhecidos.
Elias me olhava como se tivesse muitas coisas a me dizer, presas nos lábios finos e muito vermelhos, prestes a explodir. Coisas terríveis, talvez, a respeito, quem sabe, do Rodrigo? Mas não falou mais nada.
Bem, não posso dizer que ninguém, em tempo algum, jamais se preocupou comigo, porque não seria verdade. Naquele instante, sem quê nem para quê, Elias apareceu do nada, numa noite fria, para dizer que se preocupava comigo, que queria saber se eu ficaria bem.
— Preciso ir, falei. Minha filha está me esperando. Ela e o pai estão me esperando, frisei.
Elias assentiu com um gesto de cabeça, e abriu a porta do fusca, me libertando. Aquela sim, foi a última vez que o vi, há quase vinte e quatro anos passados. Enquanto abria o portão de casa, via o fusca se afastar, descendo lentamente a rua íngreme, forrada de seixos pontiagudos.

sábado, 7 de março de 2015

Mas não estou contando direito


Antes de prosseguir, quero dizer que não estou contando direito, omitindo fatos aqui e ali, que coisa feia. Devo confessar que omiti, sim, alguns detalhes que talvez fossem importantes, que possam estar desfalcando o baú dessas memórias. Porém, é sempre tempo de remediar.

Antes de prosseguir com a história – e devo dizer que contarei, a seguir, ainda que penosa e sofrivelmente, a minha história com o Rodrigo –, devo esclarecer que não contei, por exemplo, que descobri que o Adriano – o meu imperador particular, lindo, um metro e noventa de altura – era michê e que também mantinha um relacionamento com um professor universitário, bem mais velho do que ele. Numa das festas em que fomos juntos, ficou muito tarde para ir embora sozinha, então, como a casa do Adriano estava perto, ele me levou para lá. Na verdade, a casa do professor, um triplex luxuoso, bem perto da lagoa. Mal o dia amanheceu, saí nas pontas dos pés, carregando as sandálias nas mãos, e peguei o primeiro ônibus que surgiu, sem olhar para trás.

Também não disse que, certa feita, numa das vezes em que fui até o apartamento do Celso sem avisar, ele simplesmente não abriu a porta para mim, embora eu tivesse tocado insistentemente a campainha, chamado por ele e, por fim, esmurrado a porta várias vezes. Ele estava lá, dava para perceber claramente, e estava acompanhado. Havia até música tocando. Fui até o hall dos elevadores, onde havia uma pequena janela que dava para a janela do quarto do Celso. O sol estava se pondo, e sua luz perpendicular batia em cheio nos vidros das janelas altas dos prédios, refletindo tudo em volta. Fiquei ali, quieta, não mais preocupada com Celso ou com o que se passava em seu cafofo. Na verdade, nada, que não fosse aquele incrível por de mil sóis, me preocupava naqueles breves minutos em que permaneci à janela daquele corredor, esquecida de mim e do mundo.

domingo, 9 de novembro de 2014

O bolo de chocolate – Luciano


Conheci o Luciano em agosto de 1991. Foi Letícia quem nos apresentou. Ele usava cabelos compridos, um pouco cacheados, e tinha olhos bem pretos e luzidios. Era alto, muito branco e excessivamente magro. E era mais velho uns oito do que eu, que estava com 26. Quando cheguei à casa da Letícia, após o trabalho, ela estava de saída. Disse:
— Vem comigo. Vou te apresentar uma transa minha que é bem interessante.

Letícia tinha várias “transas”, mas não se fixava em ninguém. Fomos até o apartamento de Luciano, que ficava próximo à faculdade de medicina, e que ele dividia com o Caetano, um estudante de medicina cuja família era do interior. Caetano era quem pagava todas as contas da casa, já que o Luciano era “artista plástico desempregado”. Faziam as principais refeições – almoço e jantar – no bandejão da faculdade. O resto era composto por biscoitos de chocolate, cigarros e bebidas. Luciano, porém, não gastava nem um centavo com cigarros, visto que sua marca preferida, ou melhor, exclusiva, era a famosa “Simidão”. Se lhe dessem cigarros, ele fumava, se não...
Naquela época eu era fumante, embora fumasse muito pouco, cerca de três ou quatro cigarros por dia. Apesar de fumar “Simidão”, Luciano não fumava pouco. Seu apartamento era bastante frequentado por estudantes de medicina colegas do Caetano e também por outros amigos. Fumavam tanto, que o ambiente chegava a ficar com uma “cortina de fumaça”, literalmente. Também jogavam cartas e bebiam uísque, de modo que a sala do apartamento do Luciano lembrava mais um cassino clandestino do que a residência de universitários.

Luciano tinha um filho de quatro anos, fruto de um relacionamento que mal durara um ano. Talvez por isso ele não se empenhasse muito em procurar – e encontrar – trabalho. Recusava-se a pagar pensão. De qualquer forma, o menino, louro, de olhos muito azuis, um verdadeiro anjinho, passava os finais de semana com ele.
Na segunda vez que vi o Luciano, eu estava sem a Letícia. Fui direto à casa dele, procurá-la, mas ela não estava lá. Ele me convidou a entrar. Mostrou-me alguns trabalhos que fizera ainda na faculdade de artes plásticas, e que pareciam ser uma espécie de tesouro seu, guardado a sete chaves. Caetano não estava em casa, mas chegou pouco depois. E fingiu naturalidade quando eu e Luciano começamos a nos beijar.

Perguntei ao Luciano, como quem não quer nada, se ele e a Letícia tinham algo sério.
— Eu e Letícia? O que nós tivemos foi apenas uma transa.

Por causa das contínuas, quase diárias, reuniões dos amigos de Luciano e Caetano, e por causa das visitas do filho nos finais de semana, tornava-se bastante difícil às vezes encontrar o Luciano. Ele quase não saía de casa, por motivos óbvios, e era sempre eu que ia vê-lo, depois do trabalho ou em algum final de semana. Resolvi o problema mudando os meus horários.
Uma noite em que a “reunião” prolongava-se ad infinitum, o Caetano pediu licença e foi para o seu quarto, alegando que precisava dormir cedo, pois no dia seguinte deveria estar no hospital – ele era “residente” – às sete horas da manhã, horário que, para os outros simples mortais que ali estavam, ainda era madrugada. A informação acendeu uma luzinha no fundo do túnel do meu cérebro.

Ao descobrir que o Caetano precisava estar na “residência médica” pelo menos quatro dias na semana, constatei que eram quatro dias que ele não estaria em casa às sete horas da manhã. Estava tudo resolvido!
Passei a ver o Luciano de manhã cedo, antes de ir para o trabalho. Eu pegava às nove horas da manhã, de forma que, entre sete e oito e meia, lá estava eu, batendo ponto no apartamento do Luciano. Eu nem me importava de acordar mais cedo: tinha o Luciano só para mim, longe daquela “gang” de amigos, e, de quebra, livre do anjinho de cachos dourados. O próprio apartamento era só nosso, nesse curto espaço de tempo. Fazíamos café da manhã, tomávamos banho juntos e gastávamos o resto do tempo na cama larga, de casal, do Luciano, o que frequentemente me fazia chegar atrasada no trabalho, e sempre de cabelos molhados. O mais interessante é que meus cabelos molhados àquela hora não levantavam nenhum tipo de suspeita no trabalho, nenhuma gracinha, como ocorre quando as mulheres, que chegaram pela manhã de cabelos secos, retornam do almoço com os cabelos molhados. Nem mesmo para a minha melhor amiga no trabalho eu não contava uma vírgula, pois receava botar tudo a perder, se os reais motivos dos meus atrasos fossem descobertos.

Estávamos, eu e o Luciano, praticamente em lua-de-mel. Quando eu chegava, às sete e pouco da matina, ele ainda estava dormindo profundamente. Então, eu ganhei uma cópia da chave. Entrava sem fazer barulho e me certificava de que o Caetano não estava mesmo em casa. Ia pé ante pé até o quarto do Luciano e me enfiava debaixo das cobertas. O Luciano se enroscava em mim e ia tirando-me a roupa lentamente. Mordia-me os mamilos, lambia meu pescoço e ia descendo sua língua molhada e quente até o meu clitóris. Depois, me penetrava calmamente, como se tivéssemos o dia todo para isto.

— Lu, is... – fiquei meio em dúvida se pedia ou não o isqueiro, estava meio querendo parar de fumar. 
— Isqueiro?! 
Ele acendeu meu cigarro Carlton, de filtro suave, e ficamos os dois nus e fumando, curtindo a preguiça pós-sexo, antes de irmos para o chuveiro.
A nossa “transa” ia muito bem, obrigada. Até quando entramos no terceiro mês, quando, sem quê nem para quê, ele passou a falar muito na ex, a mãe do garoto. Primeiramente com rancor e mágoas, mas depois com certo saudosismo, nos momentos em que relatava histórias da intimidade deles. Até que progressivamente o assunto principal das nossas conversas, no pouco tempo de que dispúnhamos, passou a ser sempre e invariavelmente a ex do Luciano.

Estávamos em meados de janeiro de 1992 e o Luciano faria aniversário no início de fevereiro. Preparei a despedida organizando uma reunião – mais uma e, para mim, a última – com a “gang” para comemorarmos o aniversário do Luciano. Caetano havia arranjado uma namorada, que me ajudou com os preparativos: arrecadamos dinheiro entre os rapazes para comprar as bebidas e os salgados. O bolo foi por minha conta. Encomendei um de chocolate que o Luciano adorava. A “festinha” foi muito boa. Teve até balão e velinha.
Foi a última vez que vi o Luciano. Ele não tinha telefone em casa, e também nunca me pediu o meu número. Não fazia ideia onde eu morava ou trabalhava. Soube depois que andou perguntando por mim para a Letícia. Outros exageravam, dizendo que “o cara está mal”, e que eu o tinha “deixado na pior”. Mas acho que, pouco tempo depois, ele me esqueceu.